Introdução


Intitular um livro educação e tecnologias: reflexão, inovação e práticas, significa abranger uma série de construtos e reflexões atuais no âmbito da educação. Se, por um lado, se procurou abarcar diferentes objetos e linhas de investigação, por outro, foi possível identificar, a partir dos diversos contributos reunidos, a emergência de três grandes temas prioritários: Construindo e refletindo; Inovando e experimentando; Aplicando e transformando. Esta sistematização permitiu contrariar a aparente dispersão gerada pela diversidade de contributos reunidos. Cabe agora explicar um pouco esta rede de convergências analisando, a seguir, os desafios decorrentes das transformações sociais, rápidas e profundas, que se têm vindo a verificar, bem como os que decorrem da influência dessas mudanças sobre os processos educacionais.

Depois de um prefácio em que Marco Silva, Sociólogo, doutor em educação, professor da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da UNESA (Universidade Estácio de Sá), retoma alguns dos argumentos centrais na organização e desenvolvimento deste e-book, seguem-se os artigos que exploram o caráter multidimensional e transversal da relação entre tecnologias e educação.

O primeiro grande tema é dedicado à construção e reflexão em torno das práticas inovadoras de educação num mundo globalizado, onde novas exigências são colocadas e os sujeitos precisam estar preparados para as mudanças que as tecnologias estão inserindo como novos paradigmas. Para tanto iniciamos o e-book entendendo que quando falamos de tecnologias estamos nos referindo à cultura desse espaço, à cibercultura e às questões em torno dos seus usos sociais. Podemos entender a cibercultura como uma alteração do ponto de vista cultural porque: estabelece uma nova relação mais horizontal e interativa que os média anteriores; enquanto forma de trabalho, ainda que de modo insuficiente, pode ser classificada como imaterial porque o produto é informação; e, terceiro e principal aspecto deste produto, porque é socializado e com a tendência a ser livre (o código aberto, ou open source).

No espaço escolar, a utilização e integração cada vez maior das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), em geral, coloca novos desafios pedagógicos e obriga à redefinição dos papéis dos diferentes parceiros no processo educativo. Neste sentido, as TIC podem ser encaradas como um reforço aos métodos tradicionais de ensino ou como uma forma de renovação das oportunidades de aprendizagem. O que se discute aqui é exactamente a integração das tecnologias no currículo escolar, enquanto potenciadoras de novas possibilidades de êxito no processo de ensino e aprendizagem. São disto exemplo, os recursos educacionais abertos com diversos tipos e formatos de materiais de ensino que estão surgindo e permitindo que os utilizadores possam (re)construir e partilhar conhecimento.

Neste contexto, os utilizadores também passaram a ser geradores de “conteúdos” e exercem um papel fundamental na disseminação do acesso às informações e formas de construir e partilhar experiências de aprendizagem. Além disso, discutem-se questões relacionadas com o desenvolvimento das práticas pedagógicas com integração das tecnologias digitais, ou seja, dos recursos disponíveis na web (blogues, sites informativos e interativos, chats, salas de aulas virtuais, realidade aumentada), sinalizando também a necessidade da escola aprender a conviver com as linguagens não escolares e com as novas percepções e leituras do mundo viabilizadas pelas TIC, criando e potenciando ecossistemas comunicativos.

Uma das atuais tarefas da escola reside na construção do diálogo com aquilo que aprendemos com os média que nos rodeiam. Assim, no campo da profissionalização docente, surge a necessidade de definir e caracterizar quais são as competências TIC fundamentais para que sejam desenvolvidas nos professores. Através destas ações os profissionais ficam preparados para participar ativamente na eliminação de situações de info-exclusão e das barreiras culturais devidas a falhas ao nível das competências de literacia digital.

O segundo grande tema organizador deste trabalho remete para a inovação e experimentação com recurso a novas formas de aprender com as tecnologias, entendendo que estas surgem de uma série de conceitos e serviços inovadores. Destacamos os ambientes contextualizados cada vez mais personalizados e, portanto, adequados às necessidades individuais, constituindo apenas algumas dentre as grandes promessas das redes telemáticas para o campo da educação. E dentro destes a dinâmica do trabalho colaborativo em rede aplicado aos processos de educação e formação, com o surgimento de novas metodologias de aprendizagem colaborativa com impacto crescente no desenvolvimento dos processos de interação, formação de grupos de interesse e partilha.

Os novos ambientes virtuais de aprendizagem têm como tendência novas percepções e formatos de concepção de educação, online, aberta. Destaca-se a sua estrutura e implicações para a prática pedagógica autónoma, bem como as propostas de formação contínua para os docentes enquanto estímulo constante do aprender-a-aprender nas sociedades da informação e do conhecimento.

Complementando esses espaços de aprendizagem temos as novas formas de produção de material educativo com as contribuições do Learning Design para o Design Instrucional sob a perspectiva de produção de Roteiros Digitais de Aprendizagem, desenvolvimento de materiais educativos online e repositório de conteúdos. Situamo-nos finalmente no terceiro grupo temático, dedicado às questões da concretização da aplicação das tecnologias e da transformação daí decorrente. Dito de outro modo, trata-se da apresentação e discussão de experiências inovadoras de aplicação das tecnologias em processos de ensino aprendizagem e respetivas possibilidades pedagógicas.

Referimos agora apenas alguns exemplos que permitem evidenciar e sublinhar a ideia de que o conhecimento da tecnologia disponível é a primeira etapa em que muitos educadores terão que ser iniciados, para poderem assimilar esta nova forma de ensino. A implantação da TV Digital, com todos os seus recursos de interatividade, demandará um volume crescente e cada vez mais diversificado de materiais educativos audiovisuais. O m-learning é um outro tema inovador na área da educação a distância, mas também pode ser entendido como uma forma complementar de trabalho direcionado para o estímulo e a motivação para a aprendizagem. Os usos pedagógicos dos vídeos anotados nas diversas áreas do conhecimento podem parecer uma simples faiclidade, mas têm vindo a revelar grande significância quando se trata de aprendizagem. Ainda um outro tema de relevância é a Realidade Aumentada, já que apresenta um potencial para ser explorado na educação, em especial no ensino das ciências.

A breve caraterização temática das propostas que acabamos de apresentar providencia-nos algumas pistas para um primeiro mapeamento das tendências atuais da investigação na área das tecnologias e educação. A partir da análise do objeto predominante dos trabalhos propostos (e da sua quantidade) podemos comprovar o enorme interesse que esta temática suscita atualmente, entre investigadores protugueses mas também espanhóis, franceses, brasileiros e chilenos. Ao mesmo tempo, permite-nos destacar linhas de desenvolvimento e inovação das práticas educativas que são também linhas de investigação emergentes. Referimo-nos concretamente aos novos desafios decorrentes da evolução ao nível das redes sociais e dos média móveis.

As redes sociais imprimem uma nova dinâmica na relação entre os utilizadores e destes com a rede. Associadas a facilidades na criação e partilha de conteúdos, a novos consumos e estilos de vida a utilização das redes sociais requer novas e apuradas competências de selecção, processamento e interpretação da informação, o que representa um potencial pedagógico. Paralelamente, os avanços das redes móveis têm vindo a complexificar os desafios criados, que vão muito para além da questão do acesso à tecnologia. Uma vez que as comunicações são parte central da actividade humana, o desenvolvimento deste tipo de tecnologia móvel, capaz de permitir a comunicação em qualquer parte e para qualquer parte, tem profundos efeitos sociais. Tem sido evidenciado que, os usos resultam da combinação das disponibilidades e necessidades e que, quanto maior for o grau de interacção com a tecnologia, maior será a capacidade dos indivíduos de se tornarem produtores activos das práticas de utilização. Neste sentido, importa explorar as suas potencialidades da sua utilização pedagógica.

A proposta deste e-book pretende não ficar encerrada num formato meramente académico. Neste sentido, procurou-se, por um lado, incluir textos que apresentassem experiências educativas inovadoras, traduzindo uma maior aproximação ao terreno e, por outro lado, que pudessem interessar não apenas a especialistas, mas igualmente a estudantes e demais interessados nestas problemáticas.

Uma obra coletiva é, simultaneamente, o resultado do trabalho de várias pessoas e o reflexo de interesses partilhados. Começamos, assim, por destacar o contributo dos vários autores que, a título gratuito, empreenderam esforços no sentido de partilhar os seus conhecimentos, respondendo ao complexo desafio de sistematizar resultados e lançar reflexões originais sobre o tema da educação e tecnologias. Mas destacamos também a importância desta publicação ao agregar linhas atuais de investigação a nível internacional, apontando, ainda, pistas para desenvolvimento futuro. Parece-nos que o e-book que introduzimos assume pertinência no momento atual, em que o campo da educação se confronta com desafios, novos e importantes, a nível científico e profissional, que exigem a consolidação de novas linhas de investigação científica, ofertas formativas adequadas, redefinição dos papéis profissionais, etc. Acreditamos, pois, que o e-book educação e tecnologias: reflexão, inovação e práticas é um contributo neste domínio.

Daniela Melaré Vieira Barros (Professora Auxiliar UAb - dbarros@univ-ab.pt)
Susana Henriques (Professora Auxiliar UAb - susanah@univ-ab.pt)